Woody Allen, Machado de Assis e a angústia de Shakespeare

Publicado em 10 de janeiro de 2011

No filme "Você vai conhecer o homem de seus sonhos" o diretor Woody Allen explora o desejo nas mais diversas formas. O setentão que deseja ser jovem, a mulher que deseja ser galerista, o escritor que deseja o sucesso literário tanto quanto deseja a linda vizinha que só usa vermelho…

 

No início do filme, o narrador cita Macbeth, de Shakespeare, dizendo: "A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada". E se a vida é essa loucura niilista, qual o limite moral que nos separa desses desejos?

 

No centro da história, um casal vive o conflito pela frustração profissional. Ela a tal que deseja ser galerista, e por isso se deixa levar pelo papo do chefe bem sucedido na área. Ele o tal escritor que corteja a vizinha, bela e filha de um importante crítico literário. Entre o pragmatismo amoral dos dois, a mãe dela abstrai as dores da separação através dos conselhos da vidente. Enquanto todos vivenciam a angústia das incertezas, ela cultiva a felicidade da fé cega.

 

No conto "A Cartomante", Machado de Assis também cita Shakespeare logo de cara: "Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia". Também como no filme de Woody Allen, há a relação extra-conjugal e a mulher que acredita piamente no que diz a cartomante. Só que essa felicidade baseada no irracional conduz o casal à morte.

 

A felicidade é a realização dos desejos, e os caminhos para isso podem ser os mais diversos. Como disse Pascal: "Todos procuram ser felizes; isso não tem exceção. É esse o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive os que vão se enforcar". Crer ou não crer, eis a questão…

 

Por: Carlos Batalha

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