Em Nas Terras Perdidas, a adaptação de Paul W.S. Anderson para três contos de George R.R. Martin mergulha em um mundo de fantasia sombria onde magia e perigo caminham lado a lado. Lançado pela Constantin Film, o longa traz Milla Jovovich e Dave Bautista em uma jornada por terras abandonadas, repletas de criaturas ameaçadoras e intrigas políticas que desafiam a força e a lealdade de seus protagonistas.
Com orçamento de aproximadamente US$ 55 milhões, Nas Terras Perdidas combina elementos medievais e distópicos para criar cenários que remetem ao expressionismo europeu. A narrativa gira em torno da feiticeira Gray Alys (Jovovich) e do caçador Boyce (Bautista), formam uma dupla improvável. Eles precisam enfrentar desafios sobrenaturais para recuperar um artefato capaz de mudar os rumos de um reino em decadência, evidenciando a tensão moral de cada escolha.
Construindo um universo de sombras e magia
A base do roteiro se apoia em três contos da coletânea Amazons II (1982) de George R.R. Martin: “In the Lost Lands”, “The Lonely Songs of Laren Dorr” e “Bitterblooms”. Anderson costura essas histórias em um enredo que mistura fantasia medieval com toques de distopia ambiental, sempre exaltando o tom moral típico do autor. A partir do momento em que a rainha do reino contrata Gray Alys para atravessar as Terras Perdidas — um território amaldiçoado e esquecido —, o filme reforça a atmosfera de isolamento, mostrando florestas enegrecidas, montanhas rochosas e ruínas que escondem segredos ancestrais.
No aspecto visual, a fotografia de Glen MacPherson destaca contrastes intensos: cenários frios, neblina densa e composições que lembram os grandes clássicos do expressionismo alemão. O uso de cenografia digital e fundos gerados pela engine Unreal cria paisagens imersivas, embora em alguns momentos a textura digital se mostre evidente. Ainda assim, esses recursos permitem planos aéreos amplos, revelando a vastidão e a hostilidade das Terras Perdidas, onde a magia tem um preço tão alto quanto o desafio de sobreviver.
Jovovich e Bautista: força, química e nuances
Milla Jovovich entrega a figura de Gray Alys com olhar intenso e compostura que mescla determinação e mistério. A bruxa carrega um segredo devastador: cada feitiço que lança implica um sacrifício pessoal. Essa dualidade entre poder e vulnerabilidade torna sua personagem interessante, pois a cada avanço na missão, a audiência percebe as consequências sombrias de seus atos. Dave Bautista, como Boyce, contrasta com presença física imponente e semblante sério, mas revela nuances de humor contido que constroem um vínculo gradual entre os dois.
A dinâmica entre Gray Alys e Boyce funciona como um faroeste medieval, em que a troca de olhares e silenciosa desconfiança se transformam em parceria. As cenas de combate — coreografadas para aproveitar o porte atlético de Bautista e a agilidade de Jovovich — mostram a sintonia dos atores. Os confrontos são filmados com planos-sequência que valorizam movimentos amplos de câmera, aproximando o espectador do caos e da urgência dos embates. No elenco de apoio, Arly Jover e Amara Okereke reforçam a sensação de um reino marcado por traições, intrigas e ambição desenfreada.
Aspectos técnicos que intensificam o clima
Na direção, Paul W.S. Anderson mantém seu estilo marcado por ação coreografada e cenários grandiosos. A trilha sonora de Paul Haslinger sustenta o clima místico com uma fusão de percussão tribal e acordes orquestrais, realçando momentos de suspense e intensidade. A edição, assinada por Niven Howie, alterna silenciosos quadros de tensão com sequências frenéticas, fazendo o ritmo oscilar entre o peso dramático e a adrenalina dos combates.
O design de produção mistura locações virtuais com cenários práticos, mas é no trabalho de efeitos visuais que o filme encontra seu ponto de avaliação: criaturas monstruosas, campos envenenados e ruínas antigas ganharam texturas densas, ainda que alguns críticos apontem que a predominância do digital prejudica a imersão em certas cenas. Mesmo assim, a proposta de criar um reino sombrio se concretiza pelos contrastes: fortalezas imponentes ressaltadas por sombras, trilhas isoladas envoltas em neblina e portais místicos que evocam antigas lendas.
Legado de George R.R. Martin e influências de outros épicos
Por trazer contos de George R.R. Martin, Nas Terras Perdidas atrai fãs de Game of Thrones, especialmente por explorar temas como ambição, sacrifício e moralidade ambígua. No entanto, Anderson opta por um enredo mais ágil e focado em ação do que as tramas políticas extensas da série de TV. A obra se aproxima de longas como The Witch (2015) e The Northman (2022), ao combinar fantasia sombria com elementos de faroeste, criando um híbrido que dialoga com quem procura tanto espectáculos de luta bem coreografadas quanto ambientações medievais densas.
Em termos de público, o filme teve desempenho moderado nas bilheterias, refletindo o nicho restrito da fantasia sombria em contraste com os grandes blockbusters. No Brasil, críticas elogiaram principalmente a química do elenco e os aspectos visuais expressionistas, enquanto apontaram alguns clichês de roteiro e a forte presença de efeitos digitais como pontos de atenção. Ainda assim, Nas Terras Perdidas se destaca como uma experiência cinematográfica que aposta em atmosferas sombrias e na força de dois protagonistas capazes de sustentar o coração da trama.
Por que ver ‘Nas Terras Perdidas‘
Se você busca um filme de fantasia sombria que una combates coreografados, atmosfera expressionista e reflexões sobre o custo das escolhas, Nas Terras Perdidas entrega uma experiência cinematográfica envolvente. A combinação do olhar intenso de Jovovich com a presença física de Bautista, aliada a cenários que evocam fábulas macabras, torna o longa imperdível para quem aprecia universos de magia e dilemas morais. Apesar de alguns exageros digitais, o filme convence ao mostrar que, mesmo em terras devastadas, bastam coragem e confiança mútua para desafiar o desconhecido.