‘Amores Materialistas’: quando o amor vira mercadoria de luxo?

‘Amores Materialistas’: quando o amor vira mercadoria de luxo?

Redação | Hoje no Cinema

Divulgação

Publicado em 06/08/2025 às 19:50

Desde que a diretora Celine Song ganhou os holofotes com o aclamado ‘Vidas Passadas’, toda nova produção assinada por ela desperta expectativa no circuito cinéfilo – e Amores Materialistas não decepciona nesse sentido. Lançado internacionalmente em 2025, o filme chegou ao Brasil provocando debates que vão do streaming aos bares: até que ponto as relações amorosas escapam das negociações mercantis da vida moderna?

Ao contrário do que o marketing sugere, o longa é menos romance açucarado e mais uma análise divertida, crítica e sem floreios da sociedade da ostentação. Disponível nos cinemas, Amores Materialistas reúne um trio magnético de atores e escancara, com leveza e sagacidade, como nossas emoções se misturam aos interesses financeiros.

Dirigido por Celine Song e distribuído pela Sony Pictures, Amores Materialistas mergulha de cabeça num tema espinhoso: o quanto amamos pelo outro e o quanto investimos por estabilidade? Apostando em diálogos cortantes e uma narrativa sem sentimentalismos, Song abandona de vez a aura de conto de fadas em prol de discussões mais adultas e realistas sobre relacionamentos.

Uma história de amor (e negócios): trama e personagens

No centro de Amores Materialistas está Lucy (Dakota Johnson), uma casamenteira de sucesso que administra com mão firme – e olhar crítico – o desejo alheio pelo tão sonhado “felizes para sempre”. O cenário é Nova York, mas poderia ser qualquer metrópole obcecada por status e planilhas. Lucy se vê dividida entre o ex-namorado, John (Chris Evans), um garçom sonhador e artista em constante crise financeira, e Harry (Pedro Pascal), empresário charmoso, rico e irmão do noivo de um de seus clientes. Entre jantares sofisticados e conversas sobre carreira, Lucy percebe que, no fundo, o verdadeiro dilema está em si própria: será possível equilibrar desejo, paixão e estabilidade numa sociedade pautada pelo materialismo?

O roteiro de Song evita caminhos óbvios e jamais recorre ao moralismo. A diretora sugere que as escolhas afetivas, principalmente para mulheres em ascensão, também são escolhas de sobrevivência e status, dialogando com conceitos defendidos por teóricos como Zygmunt Bauman. O resultado é um filme onde a “casamenteira moderna” é, antes de tudo, estrategista das próprias emoções.

Roteiro afiado, direção madura e elenco magnético

Se há algo inegável em Amores Materialistas, é o domínio absoluto da linguagem visual e narrativa por parte de Celine Song. Sua direção aposta numa fotografia que alterna simetria e naturalismo, refletindo o lado calculista de Lucy e seu mergulho nos riscos da paixão. Não à toa, as cenas com Harry (Pascal) – sempre meticulosamente compostas – contrastam com a desordem emocional e estética da relação com John (Evans).

Dakota Johnson surpreende ao dosar vulnerabilidade e pragmatismo, principalmente quando confrontada com as diferentes versões de si expostas pelas relações. Pedro Pascal se encaixa com perfeição no papel do “ideal de família” – seguro, sedutor, mas nunca caricatural. Chris Evans, por sua vez, foge da persona Marvel para entregar um John realista, marcado por derrotas e inseguranças, carismático na medida certa. A química dos três sustenta o triângulo sem nunca pender para o melodrama gratuito.

O roteiro, irônico e por vezes debochado, deixa o espectador desconfortável ao apontar que, sim, a busca por segurança é tão natural quanto o desejo de uma paixão arrebatadora. Celine Song subverte o clássico das romcoms, trazendo diálogos provocativos e cenas carregadas de subtexto.

Trilha sonora, técnicos e influências

A trilha sonora é outro destaque: escolha precisa de faixas modernas e algumas surpresas que conversam com o estado de espírito de Lucy em diferentes momentos. Na parte técnica, Celine Song demonstra maturidade ao priorizar planos que sublinham o isolamento emocional da protagonista em meio ao caos das escolhas. Em termos de influências, Amores Materialistas dialoga com produções como “Her” e “Amor à Segunda Vista”, mas sem perder a originalidade. Em vez do romantismo puro, temos debates sobre o que realmente nos mantém juntos – o sentimento ou o saldo bancário?

Impacto cultural e recepção

Nas primeiras semanas de exibição, Amores Materialistas conquistou 79% de aprovação entre críticos no Rotten Tomatoes, além de repercussão positiva em veículos internacionais como Collider e Variety. Por aqui, portais como Omelete e AdoroCinema elogiaram o roteiro bem calibrado, os diálogos densos e a atuação certeira do trio protagonista.

Não faltaram também polêmicas: quem esperava uma comédia romântica convencional pode sair da sala frustrado, mas para quem busca uma reflexão ácida sobre os jogos amorosos contemporâneos, o filme funciona como um verdadeiro espelho da geração que teme o fracasso – no amor e na conta corrente.

Por que assistir ‘Amores Materialistas’?

Amores Materialistas é mais do que um filme sobre escolhas amorosas: é um olhar maduro e sem filtros sobre o que, de fato, nos mobiliza na busca pelo par ideal. Ao fugir das fórmulas usualmente açucaradas do gênero, Celine Song entrega uma obra provocativa, reflexiva e tecnicamente impecável, alavancada por atuações densas e um roteiro que trata o público com inteligência. Se você gosta de cinema que provoca desconforto e faz pensar, esta é uma das melhores apostas do ano. Prepare-se para rir, questionar e quem sabe até rever suas próprias planilhas afetivas.